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FERNANDA BRUM

© BRUM, FERNANDA / AUTVIS, 2016
Gilda Branca
 

 




Conheça Fernanda Brum, artista, que tem suas obras protegidas pela AUTVIS, ficou conhecida por produzir esculturas inspiradas nos seus ideais. Na entrevista abaixo, Fernanda fala sobre sua carreira, inspirações, obras, prêmios e engajamento social. 



 

AUTVIS: Quando você percebeu que queria ser artista?
Fernanda Brum: Minha opção pelas artes plásticas foi tardia. Minha vida acadêmica foi na arquitetura e urbanismo, área na qual trabalhei muitos anos. Em 2012, quando realizei minha primeira escultura em argila, percebi a força deste meio de expressão. Depois disso, não consegui mais fugir.

 

 

AUTVIS: Você costuma buscar inspiração em quais temas?
FB: Na minha infância e adolescência, eu desenhava muito, mas não tinha um tema que me tocasse com profundidade. Comecei com desenhos animados e personagens que inventava para histórias em quadrinhos que meu irmão e eu fazíamos. Era para desenhar que saíamos correndo da escola, loucos para voltar para casa. Já no ensino médio e começo da faculdade, descobri as caricaturas e costumava retratar meus colegas e professores com humor. Posso dizer que o meu tema me encontrou no começo dos anos 90, quando percebi o quanto era difícil ser mulher na nossa sociedade. Eu tinha começado a ler livros que me marcaram profundamente, como “A Idade da Razão”, do Sartre, Flaubert, Goethe e também os autores da geração Beatnik. Eu queria ter liberdade e compreendi como isso era difícil. Fiquei obcecada por mulheres mais velhas e passei a desenhá-las em toda a parte. A partir daí, sempre tive amigas com 40 anos ou mais do que eu. Elas me fascinavam com suas histórias e eram sempre mulheres com vidas muito ricas e instigantes. Eu queria retratar a beleza da velhice feminina, que hoje ainda é tão pouco compreendida.

 

 

 

AUTVIS: Qual é a sua obra preferida? Por quê?
FB: Acho que tenho duas. "Velha com Sapo", de 1992 e "Ave Maria", de 2015. Apesar de terem mais de 20 anos entre elas, as duas se comunicam perfeitamente em termos de linguagem expressiva e falam muito sobre o universo feminino. "Velha com Sapo", um pastel sobre papel craft, retrata uma índia incorpórea sentada sobre uma velha árvore com um sapo no joelho. Este foi o primeiro trabalho que considerei artístico e que traduzia os sentimentos complexos que eu não conseguia expressar de outra maneira. Ela fala do espírito, dos legados da ancestralidade e também da história da princesa e do sapo. Nesse caso, uma princesa que envelheceu esperando que o príncipe se encantasse.

 

© BRUM, FERNANDA / AUTVIS, 2016
Velha com Sapo, 1992
 

 

 

AUTVIS: Existe uma história por trás da obra “Ave Maria”. Se sim, qual?
FB: "Ave Maria" já é um trabalho mais maduro. Eu levei bem menos tempo para compreendê-lo. Já fazia escultura e quando a esbocei estava vivendo em uma parte de São José dos Campos (SP), em um distrito chamado São Francisco Xavier, na zona rural. Fui conhecendo aquela pequena comunidade e tentando me adaptar. Eu observava muito. As pessoas eram quase todas da mesma família. Todos se conheciam e contavam histórias uns dos outros. As mulheres falavam pouco e se reuniam uma vez por semana para fazer crochê. Eu via a religiosidade e as cercas das propriedades como a razão para esse silêncio.

 

 

AUTVIS: Essa mesma obra lhe rendeu o Prêmio de Escultura no 4º Salão de Outono da América Latina. O que isso significa para você?
FB: Foi um momento muito importante para mim como indivíduo. Eu tinha começado a compreender minha trajetória como artista e a relação do meu trabalho com o feminismo, com o qual me engajei ativamente em 2015. A obra parecia perfeita naquele contexto histórico pós primavera das mulheres. Uma mulher presa a arame farpado. Genial! Acho que ela já existia na cabeça de todas as mulheres que se sentiam sufocadas e que foram às ruas.
Foi preciso romper muitas amarras para fazer esse debut, inscrever essa obra e dar a "cara a tapa". Eu não me sentia pronta e não conhecia nada desse mercado. Sou uma novata e o termo "arte contemporânea" ainda me assusta (risos).

 

 

© BRUM, FERNANDA / AUTVIS, 201
Ave Maria
 

 


AUTVIS
: Você acredita que suas obras ajudam a propagar e retratar o feminismo?
FB: Antes de responder, queria deixar claro o controverso conceito de feminismo. Não se trata do domínio do masculino pelo feminino, como no machismo, e sim a igualdade de direitos entre os sexos. Eu fui perceber o feminismo no meu trabalho com “Ave Maria”. Foi aquela velha história: "moça, você é feminista e ainda não sabe". Eu nunca tinha visto mulheres tão recatadas e do lar (risos)! Claro que a minha percepção sempre será particular. Ela tem a ver com a minha realidade e com aquilo que aprendi com minhas vivências. Eu me comunico muito, gosto de encontrar razões para tudo e saber o que há de mais novo acontecendo no mundo, em especial no das mulheres. Eu acredito que as mulheres serão o futuro, pois este modelo de sociedade que construímos não nos serve mais. Muitos já conseguem ver essas falhas, que se repetem o tempo todo. A partir de um certo momento na sua vida, é impossível deixar de percebê-las. Você começa a compreender as razões pelas quais elas acontecem. Uma das mais graves é a violência contra mulheres, crianças e indígenas.
Sou feminista, pró-indígena, pró-floresta, pró-diversidade e respeito. Gosto de abordar esses temas e que as pessoas reflitam sobre eles dentro das suas realidades. Pode parecer que eu estou me estendendo, mas você verá todos esses assuntos no meu trabalho. Eles já existem em esboços e anotações, esperando para achar a plataforma ideal.

 

 

AUTVIS: O que inspirou o trabalho "Garota Ajoelhada"?
FB: Quando esbocei essa escultura, em 2012, ainda não entendia o porquê. Normalmente, uma ideia, pelo menos as melhores, vem de um sentimento, não de algo que vejo. Esse sentimento, muitas vezes difícil de definir, se traduz na expressão de um personagem que representa aquilo que quero dizer.
Há uma força muito grande nessa imagem. Quando fui fazer um curso de cerâmica na Art Academy de Londres, em 2015, decidi que ela seria ideal. Ela fala claramente da violência contra a mulher, sexual e de gênero. Mas, para mim, também fala da misericórdia, pois essa foi minha inspiração. Talvez devesse se chamar assim.
Como utilizo simbolismos, minhas obras sempre podem ser traduzidas de muitas maneiras. À medida que o contexto se modifica, o significado delas também acompanha essa mudança. Veja a obra “Velha com Sapo”. Hoje, ao sabermos por meio das mídias sociais dos perpétuos massacres às aldeias indígenas, ela pode vestir-se de um apelo dramático. Mas no contexto de 1992, ela era apenas uma referência a um antigo cemitério indígena próximo da minha casa. O mesmo ocorre com a "Garota Ajoelhada" após os emblemáticos episódios de violência noticiados no Brasil.

 

© BRUM, FERNANDA / AUTVIS, 2016
Mulher ajoelhada
 

 

 

AUTVIS: Como é a sua relação com a AUTVIS e qual é a importância da proteção dos seus direitos autorais?
FB: Eu não tinha ainda a preocupação de salvaguardar meus direitos artísticos, quando tive a sorte de poder contar com a indicação da Eliana Minillo, filiada da AUTVIS e me associar à AUTVIS. Tenho acompanhando o caso de um colega escultor que está recorrendo na justiça por seus direitos autorais. Eu recomendei a associação a ele, pois penso que teria sido bem mais fácil se tivesse a orientação necessária de como proceder. Qualquer área em que se trabalhe a associação de classe é um aspecto importante. Entre os artistas, que normalmente produzem seu trabalho de forma individual, é muito comum desconhecer ou relevar esse aspecto.



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AUTVIS: Quais são as expectativas para o futuro de sua carreira artística?
FB: Espero encontrar o caminho para viver da minha própria arte, produzir mais e participar mais em mostras e salões. Fico atraída pelo mercado nórdico que percebo estar alinhado com meu tipo de arte mais reflexivo. Tenho estudado muito desde que me decidi pela escultura. Comecei com a fundição em bronze e, no momento, estou aprendendo cerâmica e joalheria. Os materiais e técnicas que estão presentes na história do homem me atraem, em especial aqueles que estão na natureza de forma bruta. Gostaria de aprender a trabalhar com cada um deles, pois há muita beleza nessa mistura.
Como arquiteta, também tenho desejo de produzir utilitários. Faço muitos projetos nessa direção. Estou me aprofundando em história da arte e lendo autores como Luciano Trigo e Ferreira Gullar, que me dão uma boa ideia do panorama do mercado de arte atual. Na arte contemporânea, existem muitas opiniões controversas e eu pretendo manter minha autonomia criativa até o final da vida. Talvez eu faça um mestrado ou doutorado em artes plásticas.




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Autor: Beatriz Vaccari - Agência Entre Aspas

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